Thursday, December 14, 2006

Vantagens e Desvantagens do Realismo e do Relativismo

Vimos que realismo e relativismo são duas teorias fundamentais sobre a realidade. Cada uma têm suas vantagens e desvantagens, seus argumentos e suas conseqüências. A maior vantagem do realismo é que o universo ganha ordem e tranqüilidade. É possível acreditar que haja um certo e um errado absolutos, que podem servir como referência para as nossas decisões. Estamos errados quando não nos adequamos corretamente ao real, mas o real existe, independente de nossas interpretações, o que gera segurança para nossas dúvidas científicas e existenciais. Em geral, as religiões são realistas, pois pressupoem uma verdade inquestionável como fundamento de sua fé. O problema do realismo é que ele pode se transformar em dogmatismo (do grego dógma = verdade inquestionável), passando a tratar tudo o que se opõe ao que é aceito por verdade, como desvio ou loucura, e que terá que ser corrigido, controlado, excluído, ou, até mesmo, aniquilado.
No relativismo, a vantagem principal é a tolerância com a diversidade de idéias. Os discursos diferentes não são considerados erros ou desvios, mas aceitos como perspectivas da realidade, que é uma característica inerente ao mundo humano. Nenhuma é mais verdadeira do que a outra, somente mais apropriada, conforme o contexto histórico, cultural, geográfico, etc. As artes moderna e contemporânea tendem ao relativismo, pois apostam nas multiplas possibilidades de ampliar e alterar nossas percepções do mundo. Uma das desvantagens do relativismo é que a ausência de um valor único, de uma verdade absoluta, que sirva de critério em situações de impasse. Se existem multiplas perspectivas, e todas com o seu igual direito de existir, cabe a cada indivíduo fazer suas escolhas baseado nas condições da situação, assumindo os riscos de uma solução de validade passageira. Tal atitude exige mais conciência e mais responsabilidade, sendo, portanto, mais trabalhosa. Parece muito mais cômodo ao ser humano acreditar em certezas permanentes, para definir o que é verdadeiro, correto, bom ou belo. Há ainda o medo de que, com a falta de uma medida absoluta e relatividade das verdades, ideologias excludentes entre si, como a democracia e o facismo, passem a ter o mesmo valor. Entretanto, esta seria uma visão ingênua e simplificadora do relativismo, pois o fato de não se acreditar em uma verdade absoluta, não implica em adotar uma atitude niilista (do grego nihil = nada), a negação radical de todas as verdades.

O nazismo era uma espécie realismo dogmático, na medida que colocava a raça ariana como a única verdadeiramente humana, e portanto, superior a todas as outras. A suposta supremacia do homem germânico legitimou a perseguição violenta contra todos que não se adequassem a esse modelo. Os artistas partidários do regime nazista eram incentivados a reproduzir em suas obras corpos nus, como propaganda estética do homem nórdico, um ser que reunia beleza, pureza e força. A obra "Camaradagem" (1937), do escultor Joseph Thorak, um dos prediletos de Hitler, faz apologia da disposição do povo alemão para o sacrifício, até as últimas conseqüências.


A ambigüidade da imagem acima ajuda a entender o relativismo. Repare que a diferença entre as perspectivas não se origina da posição do observador, mas de sua atitude. Dependendo do que é selecionado como figura e fundo, é possível enxergar uma face feminina ou um músico tocando saxofone. É como se cada imagem fosse "construída" pela relação de quem olha com o que é olhado. Uma mesma pessoa pode construir diversas realidades, dependendo do critério de organização do que vê. Assim também é no relativismo; a pluralidade de verdades é condicionada pelas relações estabelecidas entre o homem e o mundo, que podem ser infinitas.

4 Comments:

Blogger Clara Luiza Miranda said...

Para o Rabino Henri Sobel, ética e estética são coisas distintas, a liberdade de criar é irestrita. O RABINO DIZ: "a única verdadeira imoralidade que um artista comete é permitir que sua criatividade seja tolhida pelo julgamento alheio. Pobre do artista que trai sua própria verdade e visão artística; isso eu considero imoral. Se é que se pode falar de moralidade na arte, que seja definida como a ampla e irrestrita liberdade de criar."

1:38 PM  
Blogger Clara Luiza Miranda said...

Henri Sobel ainda diz:
"Para o nazismo, “arte” era um conceito restrito às representações plásticas do heroís-mo germânico, da pátria alemã, do dever cívico de seus cidadãos e da suposta pureza racial dos arianos. Tudo que não cumprisse essa função não podia ser considerado arte verdadeira, sendo relegado ao lixo como “arte degenerada”. Diante de tal “concep-ção estética”, não é de estranhar que Leni Riefenstahl tenha sido a cineasta preferida de Adolf Hitler. Diretora do documentário Olympia, um registro ufanista das Olimpíadas de Berlim em 1936 e uma obra-prima de propaganda política, Leni teve seus indiscutí-veis méritos artísticos julgados de uma perspectiva ideológica depois da Segunda Guerra e tornou-se persona non grata nos meios culturais antifascistas.
Há quem acredite que os artistas são incumbidos de responsabilidade moral para com seus respectivos públicos. Se pretendem produzir algo genuinamente artístico, tem que ser uma arte que aprimore a humanidade, que sustente normas e princípios éticos, não que os destrua. Discordo." conclui o rabino.

1:39 PM  
Blogger Clara Luiza Miranda said...

E Nietzsche por sua vez disse:
“[n]ão existem fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos”
Depois Niezsche ainda diz:
“[F]ica evidente que o mundo não é nem bom nem mau, e tampouco o melhor ou o pior, e os conceitos ‘bom’ e ‘mau’ só têm sentido em relação aos homens, e mesmo aí talvez não se justifiquem do modo como são habitualmente empregados....”

1:44 PM  
Blogger Clara Luiza Miranda said...

Pra concluir...
Theodor Adorno, judeu desencantado com o mundo do pós-Holocausto, diz algo que não se pode esquecer:
'Mesmo no inferno há ar ara respirar".

1:46 PM  

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